sábado, 13 de agosto de 2011

A Árvore da Vida



A “Árvore da Vida” é antes de tudo, uma experiência sensorial absurda. Maximizada por efeitos visuais maravilhosos, fotografia luminosa que dá a aura divina que permeia por todo o filme, e trilha sonora que faz o peito arfar e provoca sorrisos involuntários em nossos rostos durante e após o filme. “A Árvore da Vida” se assume constantemente como filme, seja através de repetição de planos, olhares em direção a câmera ou quebramentos de eixo. Tomando em seu desenrolar, ares de obra de arte, que pode ser agradável ou não, dependo do nível de entrega que seu expectador lhe dá.

Com um misto de filosofia e religião, “A Árvore da Vida” mostra o papel insignificante do ser humano em relação ao universo. Um ser tão pequeno quando comparado ao universo, está para ele como a célula para o corpo humano, o planeta para a galáxia e a gota d’água para o mar. Entretanto, ao contrário de filmes como “Melancholia”, “A Árvore da Vida” demonstra o quanto somos agraciados pelo fato de existirmos. A possibilidade de estarmos em meio a algo tão grandioso e complexo é tido como privilégio. Os raios de sol, as árvores, o toque da pele humana - Todas as pequenas coisas ganham proporções épicas que se voltam para nós e dizem: A vida está aí, veja-a, sinta-a, viva-a.

Ao longo de sua história, o cinema acumulou diversos filmes com uma mesma “mensagem”: “Carpe Diem”. O que difere “A Árvore da Vida” é o fato de que esse questiona. - Aproveitar o dia? Mas de que forma? – A personagem de Jessica Chastain diz que se não amarmos, a nossa vida passará rapidamente. O tempo é tido como algo que passa em velocidades diferentes para cada pessoa. Tempo esse, arma poderosa de Malick, que transita com naturalidade por ele, subvertendo as noções de passado, presente e futuro. Podendo tudo pode ocorrer ao mesmo tempo, até mesmo Jack, vivido por Sean Penn, encontrar seu “eu” criança.

Em meio aos anos cinquenta, no interior dos Estados Unidos, uma família tem de lidar com a perda de seu primogênito. Levando-os a questionar Deus quanto ao porque do sofrimento humano. A dúvida é personificada pelo papel de Jessica Chastain, a mãe amorosa, benevolente, fiel aos ensinamentos divinos e a família. E ela quem mais sente o peso da perda, buscando no criador as repostas para o seu tão pesado tormento. A resposta chega na cartela exibida logo que o filme começa, mas toma suas devidas proporções apenas no final emblemático – Somos pretensiosos demais ao achar que as ações são moedas de troca e que temos o direito de ter explicações para tudo.

Após o breve encontro do expectador com os desdobramentos da morte do primogênito, somos levados até um dos irmãos: Jack. Já adulto, Jack ainda é atormentado pela perda do irmão. Dele somos levados para uma série de imagens estupendas que abarcam das células humanas e fenômenos naturais até dinossauros e belíssimas imagens do universo. Voltamos então para a criação do primogênito. Partindo de sua concepção e passando por seus primeiros passos e o desenvolvimento de relação com os pais e irmãos. Quase adolescente, o garoto possui uma relação difícil com o pai rígido e começa a apresentar sinais de maldade e questionamento quanto ao poder e a vontade divina.

Malick imprime profundidade em cada pequeno momento dessa família. Almoços de família, brincadeiras infantis e brigas de casal não são apenas acontecimentos corriqueiros, são eventos apoteóticos. Em meio a isso, são criados laços estranhos e dificilmente rotuláveis entre os membros dessa família, mas que poderiam mais amplamente ser chamados de amor. E isso se deve principalmente a câmera de Malick, que produz imagens deslumbrantes, que parecem captar cada sentimento com uma sensibilidade incrível. Sua câmera produz imagens que mais parecem acidentes. Contudo, dotados de enquadramentos magistrais.

A locações escolhidas e a direção de arte cuidadosa lapidam ainda mais essa obra incomum que é “Á Árvore da Vida”. Em meio a elas brilha um elenco de tirar o fôlego. Jessica Chastain esta impecável no papel de mãe, em uma química perfeita com Brad Pitt como seu marido. Esse infelizmente, acaba por ser ofuscado a maior parte do tempo pela companheira de cena. As crianças são incríveis, cumprindo seus papéis com delicadeza e notável competência. A grande incógnita é o Jack de Sean Penn, que parece ter sido extremamente mal aproveitado. Entretanto, pode-se supor que se seu personagem ganhasse mais espaço, com certeza haveria um filme completamente diferente, talvez mais convencional. O que obviamente não pode ser um desejo comum após assistir “A Árvore da Vida”.

Talvez “A Árvore da Vida” seja apenas muito bom, como muitos outros filmes. Mas como experiência de vida, ele extrapola qualquer outro. A forma como dialoga conosco e com a vida através de nossos sentidos, é única e especial. Sendo assim, “A Árvore da Vida” firma seu lugar na história, assumindo a posição de algo que não se permite ser esquecido, penetrando em nossos olhos, nossos ouvidos e nossa carne – E lá permanecendo.

(?)

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