domingo, 31 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2.

A realidade machuca. Essa é provavelmente a principal lição que se pode tirar de "Tropa de Elite 2". O filme é tão real que agozina o expectador. Bráulio Mantovani e José Padilha escrevem um roteiro sensacional e impecável. Sim, impecável, pois ao contrário do que ocorreu no infinitamente inferior primeiro filme, a narração de Nascimento justifica-se a cada momento. A forma crua e direta como o Capitão Nascimento narra a história só dão mais força aos tapas na cara dados ao longo do filme. O roteiro precisava ser assim.

Quando se mora no Rio de Janeiro, na Zona Oeste, é impossível não sentir o que o filme quer passar. A sensação de impotência é enorme. Vemo-nos muita das vezes representados na tela. Quantas vezes não vi milicianos e policiais da delegacia próxima almoçando no mesmo restaurante, na mesma mesa. "O sistema é foda". Está tudo entrelaçado: Os comerciantes obrigados a pagar taxas aos milicianos, os ex-policias que comandam diretamente o processo, os atuais policiais a quem são subordinados, os políticos que mandam nestes. E nós, nós que estupidamente os elegemos. Vivemos em um coronelismo contemporâneo. Onde por meros dez reais vende-se o voto. Cidadania vendável, triste, não?

Os conflitos de nascimento romanceiam o filme equilibrando sua linguagem, não o tornando pesado demais. Contudo, os problemas pessoais de nascimento acabam dialogando com o foco político principal. O descanso acaba por nos forçar a pensar mais um pouquinho de forma sutil. O conflito entre o capitão e o deputado Diogo Fraga é a prova mais expressiva do último ponto citado.

Destacam-se as atuações brilhantes de Wagner Moura, Irandhir Santos e Maria Ribeiro. André Mattos cumpre o seu papel com excelência sendo um dos principais destaques do filme. A mistura de Wagner Montes e Natalino ficou sensacional. A ponta de Seu Jorge tem lá o seu charme.

O filme é repleto de ironias, as mais óbvias são as nominais, que eventualmente arranca risos dos que conhecem a realidade carioca. "Mira Geral" dando lugar ao "Balanço Geral" de Wagner Montes; "Rio das Rochas" ao invés de "Rio das Pedras"; Deputado "Fraga" substituindo o Deputado Marcelo Freixo. Além é claro dos planos velozes e escuros do governador levando facilmente a confusão com Sérgio Cabral.

Técnicamente impecável, nem tem muito o que se falar sobre isso. José Padilha mostra-se maduro e confiante em suas composições. O foco na política eleva as cenas de ação a um outro nível. Tropa de Elite 2 é provavelmente o filme mais importante da história do nosso cinema. Pois além de entreter questiona o nosso papel como cidadãos e mostra a muitos uma realidade que tentavam não enxergar. É dificil acreditar que se lançado um mês antes o governador Sérgio Cabral e o deputado Wagner Montes seriam eleitos de forma tão expressiva.

O filme é genial como um todo, Padilha está de parabéns. Merece muitos aplausos.

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