terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Film Socialisme

Godard explode em criatividade, dando origem possivelmente ao melhor e mais complexo retrato de nossa sociedade atual. A crítica ao capitalismo fica evidente em todo o seu conjunto, em todos os seus três atos. Mesmo que suas referências nem sempre sejam compreendidas. As técnicas utilizadas são das mais variadas, desde o uso de câmeras de celular até imagens de arquivos. De tom quase documental, o filme é uma reunião de imagens acompanhadas por legendas.

A edição sonora é um de seus grandes destaques, onde Godard mais arrisca (certeiramente como era de se esperar). Os sons mostrados usualmente são muitas das vezes cortados, dando lugar ao som ambiente e aqueles considerados defeituosos, como chiados e barulhos do gênero. Som e imagem se misturam formando uma grande dança audiovisual, sem direito a questionamentos, ou como diria Godard em seus próprio filme: “Sem comentários”. “Film Socialisme” é um filme feito para ser engolido a seco.

Godard quer ver tudo ao mesmo tempo, como em uma grande obra cubista. No primeiro ato, passado em um cruzeiro, vemos uma série de acontecimentos por diversos ângulos e estruturas diferentes, cruzando-se ou não ao longo de seu desenvolvimento. Godard usa de belas imagens e imagens que simplesmente passam o que se deve passar. A beleza da linguagem visual associada a linguagem puramente comunicativa, como que em cento e quarenta caracteres.

O segundo ato é mais familiar, onde se aborda o dinheiro como centro de disputas familiares e a invasão de privacidade. Uma família discute por conta de sua oficina, enquanto uma repórter e uma cinegrafista acompanham tudo, sufocando-os. Godard nesse ato chega ao cúmulo de repetir a mesma cena por ângulos diferentes: O filho mais novo do casal está falando com a cinegrafista e logo após encerrar sua fala, a câmera o pega por outro ângulo começando sua fala repetindo o que acabara de ser dito. Godard é gênio, e faz questão que captemos o que quer dizer, criticando juntamente a própria linguagem em si.

O terceiro ato parece um grande documentário. O tom psicodélico formado pelo cruzamento de imagens torna-se gritante. Em poucos minutos, vemos todo um mundo contemporâneo sobre a ótica de Godard, de forma que é impossível de descrever. Só assistindo.

Film Socialisme é complexo ao extremo, contudo prende a atenção por toda sua extensão, é impossível despregar os olhos dele. Godard re-inventa o cinema mais uma vez. Sinto um novo grande movimento partindo daí, que é do que o cinema anda precisando. Parece que ao contrário do que muitos dizem, Godard provou que ainda existem muitas histórias para serem contadas. E de maneiras bastante peculiares.

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