sábado, 23 de julho de 2011
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
O que falar sobre algo que viveu com você durante dez anos? Como conciliar a cinefilia a um pedaço de si mesmo? Sendo que foi “A Pedra Filosofal” um dos maiores motivos da paixão pelo cinema ter despertado. O que foi incrível na época, hoje é pura nostalgia. O medo de que o mesmo aconteça é de cortar o coração.
Harry Potter crava seu lugar na história do cinema, afinal não é todo dia que vemos uma série de oito filmes com um público tão fiel e apaixonado. Com uma trama bem amarrada, sustentada por um elenco de apoio monumental e uma excelente equipe técnica, cria entretenimento duradouro e de qualidade.
A começar pelo roteiro, “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” encontra seu maior trunfo naquele que é também o seu maior defeito. Ao passo que não subestima seu público, pressupondo que esse já conhece a saga o suficiente para não ficar perdendo tempo com explicações, acaba por deixar pequenos furos no roteiro do próprio filme em si. Perdendo um pouco da dramaticidade de certas cenas que poderiam ter tido força maior, como a morte da serva mais fiel do Lorde das Trevas. Ainda assim, o roteiro é recheado de pérolas que remetem a episódios anteriores da saga, arrancando risos e lágrimas do expectador. Um presente grandioso para os fãs, sem desdenhar em demasia do expectador comum.
A fotografia sombria, a excelente mixagem de som e a trilha sonora emocionante de Desplat proporcionam ao expectador uma experiência sensorial pouco vista ao longo da série. Os incríveis efeitos visuais são sem dúvida os melhores da série, valorizados pelos enquadramentos sempre cuidadosos de Yates. As cenas da batalha tiram o fôlego e os duelos são mais realistas do que nunca. A tensão gerada pela certeza do fim é maximizada, tornando o filme mais emocionante e arrepiante que o esperado. Ao ver Hogwarts em estado de destruição, conter as lágrimas é difícil. Principalmente para aqueles que viram Hogwarts pela primeira vez chegando até ela através do lago e da câmera de Columbus .
Os figurinos e a maquiagem delineiam a personalidade de seus fantásticos personagens sem cair na caricatura. A cenografia nos leva a cantos ainda inexplorados no castelo. A rica direção de arte homenageia o trabalho primoroso realizado desde “A Pedra Filosofal”. Infestado de referências aos outros filmes, a preocupação com os detalhes é louvável. Sem esse trabalho cuidadoso da arte, talvez não fosse possível que o universo de Rowling fosse tão crível e mágico.
A montagem de “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” possibilita ao filme um ritmo frenético, talvez até demais. Contrastando assim com o ritmo arrastado da primeira parte. O que leva a crer que um equilíbrio maior nessa polêmica divisão seria muito bem-vindo. Além disso, a transição entre as cenas muitas vezes é excessivamente bruta e antidramática.
O melhor da segunda parte de Relíquias da Morte reside em David Yates. O diretor não sucumbe a pretensões estilísticas, deixando sua câmera servir a saga com primor. A trama criada por Rowling, inteligente e ao mesmo tempo defeituosa, é tratada com mais respeito por Yates do que por qualquer outro diretor que tenha filmado algum dos longas da saga. Os movimentos de câmera grandiosos exaltam todo um conjunto de departamentos, que tornam o filme mágico e de proporções épicas.
Talvez estejam em “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” as melhores atuações vistas na saga. Os protagonistas mais maduros demonstram conhecer seus personagens como ninguém. Certos coadjuvantes finalmente ganham o espaço merecido. Como Matthew Lewis em um impagável Neville Longbottom.
Maggie Smith faz de sua Minerva ainda melhor que a dos livros, através de uma interpretação econômica e contundente. Ralph Fiennes, que enfim tem a chance de mostrar traços de Voldemort ainda escondidos. O vilão, duro e quadrado visto até então, transparece suas nuances. Dor e alegria revelam um personagem com alma, ainda que fragmentada.
Alan Rickman leva o espectador ao choro soluçante na melhor interpretação vista em toda a saga Potter. Cada emoção é pontuada através de olhares e pequenos gestos. A sequência da penseira é monumental, a mais bem montada da série, perpassando a trajetória do personagem mais complexo da série. Ao vermos o primeiro olhar lançado a Harry por Snape, enxergamos assustados que Rickman provavelmente já sabia de tudo que Rowling reservava.
O que decepciona é o tratamento dado a Helena Bonham Carter e Jason Isaacs, que expandiram o seu espaço ao longo da série com bastante brilho. Entretanto, os poucos momentos em que Bellatrix Lestrange e Lucius Malfoy aparecem na tela são impagáveis. O mesmo se aplica a Helen McCrory e sua maravilhosa Narcisa Malfoy, uma das personagens mais humanas da série.
“Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” deixa para os fãs cenas inesquecíveis, mas é no epílogo que as lágrimas queimam o rosto. Lembrar da primeira vez que vemos o expresso de Hogwarts pela primeira vez, quando tínhamos apenas sete ou oito anos, e vermos que passou tanto tempo, que crescemos junto com aqueles personagens, que amadurecemos e sofremos com eles. Harry Potter termina, mas deixa em nós uma marca, que nem o tempo será capaz de apagar. Como as lembranças mais belas de nossa infância, como uma horcrux, como uma parte de nós.
:D
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