sexta-feira, 23 de abril de 2010

Central do Brasil

Meus olhos já tinham ficado inchados em outros filmes, minha pele arrepiada, mas eu nunca havia chorado. Sempre falava dos filmes em que eu "quase chorei". Central do Brasil mudou isto. Não tenho vergonha de dizer que chorei mesmo, o filme é forte e comovente, autenticamente brasileiro. Dora é o Brasil, o Brasil que é forte, que se faz de bruto, que comete erros, mas que se arrepende. Um Brasil cheio de amor, que luta com todas as forças. Josué é a inocência, a natureza, os olhos doces cheios de esperanças, que não consegue mentir, que agem diferente da boca entregando seus verdadeiros sentimentos.

O roteiro maravilhoso narra a história da trajetória de Dora e Josué excepcionalmente. Sem deslizes, merecia uma indicação ao Oscar, assim como a fotografia e a direção. Voltando ao roteiro, os personagens são tratados dignamente, todos são importantes para a história, desde Irene (Maravilhosamente interpretada por Marilia Pêra) até os clientes de Dora, todos têm sua história, sua dor, mesmo que estas não sejam aprofundadas ou nem exibidas. Uma frase, um diálogo, uma expressão, tudo serve de arma para Walter Salles. Salles dá vida a cada palavra do roteiro.

Em “Central do Brasil”, Josué é um menino que mora no Rio de Janeiro sozinho com a mãe. A mãe de Josué morre e ele re-encontra Dora, a escrivã com quem ele e sua mãe haviam estado pouco antes de sua morte. Fernanda Montenegro executa a maior atuação do cinema nacional interpretando Dora, uma mulher impressionante e única. Que sacrifica o pouco que tem para ajudar Josué a encontrar o pai. A principio parece que ela faz isto pela culpa de ter quase vendido o menino. Mas depois podemos enxergar que é só uma desculpa, na verdade Dora precisa do menino tanto quanto ele precisa dela.

A câmera sensível de Salles, somando-se a fotografia e a trilha sonora, encaixam-se perfeitamente com a história. A luz, o figurino, o elenco e todo o resto nos ajudam a acreditar no filme, onde cada detalhe parece real. Parece que tudo foi documentado, todos os elementos fluem liricamente.

E retorno a dizer: “Central do Brasil” não é apenas um filme, é o próprio Brasil.

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