terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Garoto de Bicicleta



Como seria tratada pelo cinema, em geral, a história de uma criança que ao ser abandonada pelo pai, encontra apoio em uma mulher que o trata como filho? Sendo que essa criança ainda por cima seria tentada pelos mais diversos maus elementos do submundo contemporâneo? O resultado: Um melodrama de levar as lágrimas. Certo? Não para os Dardenne.

Permitindo-se fugir um pouco de seu habitual teor “neorrealista”, os irmãos Dardenne realizam uma obra delicada em suas belezas formal e de conteúdo, ao passo que impressionam por uma visão crua da realidade. Ainda que com um aprumo estético natural na condução do filme, os Dardenne não estilizam a questão social, não a transformando em um show melodramático como grande parte dos “realizadores” o faria.

Isso se manifesta através dos diversos seguimentos da construção fílmica, partindo de um roteiro que dá sinal de brilhantismo em todo o seu desenrolar. O prosaísmo de cada situação é tratado como algo apoteótico, maximizando cada pequena tensão que é criada. A tensão é corroborada também pelo uso recorrente de anticlímax. Em “O Garoto de Bicicleta” o que importa não é a conclusão do fato, mas a forma como o fato é preparado. É um filme primordialmente de expectativas.

Os Dardenne novamente insistem em prolongar o plano de acordo com a duração da ação, talvez seja aí que resida sua maior herança de uma tendência mais realista, ainda que nesse filme se permita a campos e contra campos e outros cortes mais estranhos a sua filmografia. A ousadia acaba por ser positiva, pois dá frescor ao filme, um ar de novidade.

A montagem, que a um olhar mais desatento poderia parecer um mero justapor desses planos, impressiona por sua precisão. Os cortes de um plano para o outro parecem ser feitos sempre nos momentos corretos. A união dos planos através de cortes secos, não promove a identificação, mas torna esses cortes mais suaves.

Outro fator que influencia nessa concepção realista é o som, talvez o único elemento que venha realmente a incomodar em certos momentos. O permanecer do som do campo diegético do filme e a pontuação dos ruídos cotidianos como uma espécie de trilha sonora, massificam o tom realista e algumas vezes incomodam.

Enquanto a arte parece passar despercebida em decorrência de seu mimetismo, o uso das cores associados a fotografia compõe a parte mais assumidamente assinada do filme. Com o contraste do vermelho e do branco soando mesmo quando o vermelho não é muito evidente. A fotografia é suave, mas não consegue passar sem ser notada, devido a sua beleza ímpar.

No que diz respeito às atuações, “O Garoto de Bicicleta” parece possuir um elenco perfeito para toda sua estrutura cinematográfica e narrativa. Seus atores não parecem possuir tiques, e nem um naturalismo forçado. Tudo soa espontâneo, como se assumissem que estão representando em um filme e não ligassem para isso. Até mesmo as crianças parecem estar à vontade.

O grande destaque no campo das atuações reside na experiente Cécile De France, que no papel de Samantha, não teme em deixar de lado as caras e bocas, expressando suas nuances através dos pequenos gestos. Outro que se destaca nos escassos momentos em que aparece é Jérémie Renier, no papel do pai que abandona. Tornando impossível não remetê-lo ao pai que quase se livra do filho para os seus próprios interesses em “A Criança”.

Com um bom elenco e toda uma estrutura sólida a seu favor, “O Garoto de Bicicleta” acaba por cravar mais uma estrela na filmografia dos irmãos Dardenne. Trata-se de um filme seguro de suas possibilidades, ligeiramente ousado no que diz respeito aos próprios realizadores e único se comparado as outras produções da segunda década do século XXI. Uma verdadeira aula de cinema em menos de uma hora e meia.

Avaliação: :D

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Festival do Rio 2011 - Balanço Geral

Com um saldo final sem dúvida alguma positivo, mais um Festival do Rio se encerra. Há de se comentar a relevância das obras mais particulares nesse festival, não só na EXPECTATIVA (Polisse, O Fim do Silêncio), quanto na IMAGENS DE ISRAEL (Invisível), Première Brasil (Uma Longa Viagem) e a LIMITES E FRONTEIRAS (18 Dias no Egito). Creio que o experimentalismo reinou nesse Festival, ainda que filmes mais tradicionais (Inquietos, Lições de um Sonho) também tenham se destacado. Foi um Festival de bastantes surpresas, boas (Histórias que Só Existem Quando Lembradas, Sudoeste) e ruins (Um Método Perigoso, Aqui é o meu Lugar, Último Dia em Jerusalém). De qualquer maneira, foram 14 dias excelentes, de sair com o cinema ainda mais impregnado na alma. Que venha o próximo!

Lições de um Sonho :)
Gun Hill Road :O
As Melhores Intenções :x
O Fim do Silêncio :)
Histórias que só Existem Quando Lembradas *-*
Um Método Perigoso :|
Polisse :O
Michael :O
Invisível :O
Prova de Artista :)
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios :)
Último Dia em Jerusalém :x
O Garoto que Mente :)
As Canções :D
Sudoeste :D
Inquietos *-*
Juntos Para Sempre :|
O Palhaço :)
Clube do Tigre :(
A Estrela de Copérnico :x
Aqui é o Meu Lugar :|
A Árvore do Amor :|
Uma Longa Viagem :O
Corações Sujos :|
18 Dias no Egito :O
Ausente :)
Sibéria, Monamour :D
A Cor do Oceano :|

FESTIVAL DO RIO 20/10

Um último dia bastante regular.

Sibéria, Monamour
(Dirigido por Slava Ross / Expectativa 2011)



Soa como um filme bastante maduro, com plenos poderes sobre si mesmo, o que é de se espantar por ser dirigido por um estreante. Fotografia bela, planos belos, narrativa interessante... Enfim, um filme realmente bom, o que já é digno de fogos!
Avaliação: :D

A Cor do Oceano
(Dirigido por Maggie Peren / Limites e Fronteiras)



Ainda que bastante irregular, tem como base uma excelente estrutura narrativa que promove a ampliação do tema retratado para além da tela. Gostaria de acreditar que os problemas técnicos ocorrem apenas por falta de dinheiro, mas ao notar certos aspectos como enquadramento e fotografia, vemos que não é bem assim.
Avaliação: :|

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 19/10

18 Dias no Egito
(Dirigido por Sherif Arafa, Kamla Abu Zikri, Marwan Hamed, Mohamed Ali, Sherif El Bendary, Khaled Marei, Mariam Abou Ouf, Ahmad Abdallah, Yousry Nasrallah e Ahmed Alaa/ Limites e Fronteiras)



Experimental e apaixonado, ao mostrar vários pontos de vista, parece transmitir o sentimento de toda uma nação.
Avaliação: :O

Ausente
(Dirigido por Marco Berger / Mundo Gay)



Com um bom elenco e uma câmera farejante, o filme possui uma ambiguidade constante, por vezes erótica. Um filme sedutor.
Avaliação: :)

FESTIVAL DO RIO 18/10

Curioso... Um filme bonito, que podia ser muito mais do que é; Uma puta experimentação; Um filme mais ou menos quase mercadológico.

A Árvore do Amor
(Dirigido por Zhang Yimou / Panorama do Cinema Mundial)



Uma linda história de amor que fascina, e envolveria o expectador se não fosse os repetitivos fades e cartelas. Uma constante quebra de clima que irrita por sua ausência de necessidade.
Avaliação: :|

Uma Longa Viagem
(Dirigido por Lucia Murat / Première Brasil)



Impressiona pela ousadia estética, ainda mais partindo de uma realizadora experiente. As projeções sobre Caio Blat são em sua maioria belas, enquanto os registros documentais de Heitor são bastante inconstantes. O que realmente não parece ter desníveis é a narração visual e falada de Lúcia, que interfere bela e diretamente no filme.

Avaliação: :O

Corações Sujos
(Dirigido por Vicente Amorim / Première Brasil)



Excelente premissa, contada através de uma narrativa que não alcança o potencial da história. Muito bom tecnicamente, ainda que sua montagem e seus planos lembrem excessivamente a dos filmes comerciais americanos.
Avaliação :|

FESTIVAL DO RIO 17/10

Dia de merda!

Clube do Tigre
(Dirigido por Peter Gersina / Mostra Geração)



Tecnicamente eficiente. Possui uma narrativa boba, perfeita para um filme de sessão da tarde.
Avaliação: :(

A Estrela de Copérnico
(Dirigido por Zdzislaw Kudla e Andrzej Orzechowski/ Mostra Geração)



De péssimo gosto, não parece agradar em nada. Soa complexo para as crianças e infantil para os adultos.
Avaliação: :x

Aqui é o Meu Lugar
(Dirigido por Paolo Sorrentino / Foco Itália)



Mesmo com o personagem brilhante conduzido por Penn, o filme é bastante irregular e cheio de momentos constrangedores. Há de se notar também que existem sequências maravilhosas, como a do velho nazista.
Avaliação: :|

domingo, 16 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 16/10

O Palhaço
(Dirigido por Selton Mello / Première Brasil)



Ainda que com uma estrutura narrativa esquisita, "O Palhaço" comprova que Selton Mello está "fazendo o que nasceu para fazer": Cinema. Todos os segmentos se encontram em harmonia, possibilitando que o clima de espetáculo circense tome conta do expectador. Os aplausos no fim deixam de ser surpreendentes.
Avaliação :)

FESTIVAL DO RIO 15/10

Um dia de contrastes, um filme morno e a maior pérola vista no festival até então.

JUNTOS PARA SEMPRE
(Dirigido por Pablo Solarz / Première Latina)



Tecnicamente impecável, funciona bem como comédia. Entretanto, não impressiona. Um filme bem realizado, mas de pouca inspiração.
Avaliação :|

INQUIETOS
(Dirigido por Gus Van Sant / Panorama do Cinema Mundial)



Exalando delicadeza por todos os seus poros. Roteiro, direção, fotografia, montagem, trilha sonora, arte... Tudo na mais bela sintonia. Mesmo girando em torno da morte e de dramas profundos, o filme consegue ser feliz, levando o expectador aos sorrisos durante toda sua extensão. Obra-Prima.
Avaliação: *-*

FESTIVAL DO RIO 14/10

Dia brasileiro, o melhor do festival, sem dúvida.

As Canções
(Dirigido por Eduardo Coutinho / Première Brasil)



Colocando-nos na frente de pessoas reais, com histórias reais. Ao mesmo tempo em que interfere diretamente em seus depoimentos, seja perguntando, seja reagindo. Coutinho faz mais uma pérola com o poder de suas contradições.
Avaliação: :D

Sudoeste
(Dirigido por Eduardo Nunces / Première Brasil)



Com uma fotografia espantosa, o filme é visualmente incrível e peculiar. Seu planos longos só evidenciam a beleza do lugar e de seus personagens, beleza que não é padrão, e sim única. Tudo converge para a criação da aura de realismo fantástico - Partindo do roteiro, passando pela arte e chegando na montagem. Lindo!
Avaliação: :D

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 13/10

O Garoto que Mente
(Dirigido por Marité Ugás / Première Latina)



Extremamente delicado, lembra um pouco "Os Incompreendidos" (De François Truffaut), ao mesmo tempo em que parece se localizar em um mundo muito particular e distante do nosso - Um road movie muito particular. Talvez todo esse teor extraterreno seja oriundo da bela fotografia, da direção peculiar e do roteiro, que não teme seguir seu próprio rumo, assim como seu personagem.
Avaliação: :)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 12/10

No dia mais fraco do festival, uma grande decepção e um belo filme estranho.

Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios
(Dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca / Première Brasil)



Belissimamente fotografado, com usos incríveis das cores e planos maravilhosos, o filme se consagra como uma grande experiência plástica sensorial. Ainda que belo, admito não ter compreendido bem algumas metáforas claramente colocadas, ignorância minha, e não de seus realizadores, que executaram um bom trabalho.
Avaliação :)

Último dia em Jerusalém
(Dirigido por Tawfik Abu Wael / Imagens de Israel)



Grande decepção do festival. Um título tão bom, um filme tão ruim. Exceto algumas atuação razoáveis, nada mais salva. Um completo desperdício de tempo.
Avaliação: :X

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 10/10

Quarto dia agitado nos bastidores, mas com pouco fluxo de filmes vistos. Entretanto, um excelente dia de filmes.

Invisível
(Dirigido por Michal Aviad / Imagens Israel)



Seguindo uma narrativa muito bem construída, com um roteiro inteligente e uma direção que faz jus ao mesmo. Em seu primeiro longa metragem de ficção, a diretora mostra um pleno domínio na arte de manipular as emoções do expectador.
Avaliação: :0

Prova de Artista
(Dirigido por José Joffily / Premiére Brasil)



A arte sobre a vida, a arte maior do que a vida. Com muita doçura, Joffily expõe o desejo pelo fazer artístico, a luta pelos ideias e os conflitos entre os diversos caminhos. Um dos melhores documentários brasileiros dos últimos tempos.
Avaliação: :)

domingo, 9 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 09/1O

Em um segundo dia bastante coerente, duas obras bastante peculiares, que levam o expectador a uma grande mistura de sensações.

Polisse
(Dirigido por Maïwenn / Expectativa 2011)



Com roteiro cheio de nuances e uma direção de tom documental, Polisse revela ao público uma estranha sensação de impotência. Seja por conta do sistema que tem seus próprios interesses, seja pela busca de explicação do inexplicável. Talvez seu único problema seja durar demais.
Avaliação: :O

Michael
(Dirigido por Markus Schleinzer / Panorama do Cinema Mundial)



Através de uma atuação exemplar de seu protagonista e de enquadramentos que permitem ao expectador a impressão do próprio olhar sobre o filme, gera-se uma sensação de ambiguidade. Onde nos vemos perplexos ao perceber que simpatizamos, ao mesmo tempo que enojamentos o seu protagonista - Um pedófilo, mas de atitudes desengonçadas. Um filme sombrio, que consegue ser cômico em alguns momentos.
Avaliação: :O

sábado, 8 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 08/10

Em um segundo dia um pouco mais tranquilo, o saldo é novamente positivo. Agora com uma obra realmente grandiosa, e outra um tanto quanto decepcionante, mas ainda assim agradável.

Histórias Que Só Existem Quando Lembradas
(Dirigido por Julia Murat / Première Brasil)



Guiado pela atuação simples de Sônia Guedes, onde cada gesto detém um grande potencial emocional, o filme atinge um nível de beleza raramente visto no cinema mundial. “Te Incomoda o silêncio?” pergunta a personagem de Sônia para outro personagem. Sim, incomoda. E purifica, arrepia, trás a tona a quase perdida essência do cinema.
Avaliação: *-*

Um Método Perigoso
(Dirigido por David Cronenberg / Panorama do Cinema Mundial)



O aparente afastamento imposto por Cronenberg consegue apenas me distanciar do filme, e tornar essa uma experiência fria, quase que indiferente. O roteiro é impecável, a técnica idem. As atuações são bastante coerentes, com destaque para uma brilhante Keira Knightley. O que é realmente defeituoso é a direção de Cronenberg – os enquadramentos são deprimentes em sua maioria –, que transforma o que poderia ser um filme realmente bom, em algo que não cativa nem um pouco.
Avaliação: :|

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

FESTIVAL DO RIO 07/10

Começou hoje a largada - O primeiro dia de Festival do Rio começou para nós, mortais. Nada de sessão de gala no odeon, nada de gente de terno e gravata. Uns correndo para conseguir cumprir a própria programação, uns criando e descobrindo a programação na hora. Uma loucura. Posso dizer que comecei o festival com o pé direito, e vou logo avisando, comprometo-me a escrever aqui sobre todos, ou pelo menos o máximo, dos filmes que eu vir a assistir no festival. Bom festival a todos nós cinéfilos!

LIÇÕES DE UM SONHO



(Dirigido por Sebastian Grobler / Mostra Geração)
Ainda que detendo uma série de clichês em seu roteiro, é realizado com tamanha delicadeza e simplicidade, que não pode deixar de ser nada menos do que belo.
Avaliação :)

GUN HILL ROAD



(Dirigido por Rashaad Ernesto Green / Expectativa 2011)
Um intruso em um mundo que não é seu, outro intruso em um mundo que naturalmente não é dele. Não é atemporal, não é forte, mas é um retrato fiel de uma época específica. Seja no campo temático, seja no campo estético, é produto absoluto de seu tempo.
Avaliação: :O

AS MELHORES INTENÇÕES



(Dirigido por Adrian Sitaru / Expectativa 2011)
Nem toda explicação conceitual pode fazer com que o filme deixe de ser o que é: Quase duas longas e enfadonhas horas. Desagradável para todos os públicos. Partindo de uma premissa excelente, conseguindo estraga-la.
Avaliação: :x

O FIM DO SILÊNCIO



(Dirigido por Roland Edzard / Expectativa 2011)
Dotado de uma plasticidade incrível,coloca em voga a questão mais recorrente do cinema contemporâneo: Você é capaz de se desprender e entregar-se completamente a u m filme. Se sim, terás uma experiência maravilhosa.
Avaliação: :)

sábado, 27 de agosto de 2011

A ALEGRIA



Como classificar ou falar sobre um filme como “A Alegria”? Um filme que consegue se distanciar dos padrões, do comercial ao cult. Acredito que o comparar com qualquer outro filme seria um crime, um despropósito. Não há dúvidas, entretanto, de que o filme segue com vigor o espirito do cinema novíssimo – “A Alegria” incomoda, e muito. Seja o expectador qual for, o que assiste a “blockbusters” americanos ou o que é rato das mostras sobre Glauber Rocha, qualquer um sai incomodado. O que gera dúvida, polêmica e discussão, tornando o debate sobre o filme mais acalorado e por consequência, produtivo.

Tenho que dizer, antes de começar a entrar no campo das opiniões, que não tenho nenhum interesse pela história narrada no filme, e sim por sua forma e suas construções dramáticas. Ainda que me interesse pela forma densa e cheia de lacunas com que os personagens são conduzidos. Tendo isso em vista, acredito que o fato do filme cumprir as propostas de seus realizadores, não obriga o expectador a gostar do que é feito, e provavelmente essa nem é a intenção de quem o fez. Propositais ou não, as atuações forçadas e os diálogos irrealmente poéticos, são desagradáveis e constrangedores. Ao passo que servem para retomar constantemente a ideia de que esta sendo visto um filme, não nos sugando para caminhos ilusórios.

O que “A Alegria” tem de desconfortável e agonizante em diálogos e atuações, tem de exuberante em sua estrutura narrativa e imagética. Amparados em uma fotografia deliciosa, os planos são de uma estética tamanha, que acabam por amenizar em muitos momentos, todas as sensações ruins que o próprio filme impõe. Com o auxilio de se passar em um universo muito próprio e livre, a construção das imagens é o grande trunfo do filme, que querendo ou não, prende o expectador através dos olhos. O som pulsante, onde música e ruído são um só, unido a tamanhas imagens, proporcionam uma experiência não só mental, mas também física. Levando o clássico “sentir” do cinema, a pontos extremos.

Duas falas do filme parecem ter sido ferramentas dos realizadores para falarem através de seus personagens. A protagonista diz ao pai: “Tem muita gente quieta nesse mundo”, e de fato, existem muitos filmes quietos, quase iguais, em um mundo cada vez mais globalizado. Filmes que não levam o expectador a experimentar nada de novo. “A Alegria” mais do que bom ou ruim: É. Símbolo de um cinema muito diferente do que tem sido visto, de algo fresco que parece brotar em meio as terras férteis do cinema brasileiro. Um cinema que não é e nem quer ser como os outros, assim como a protagonista de “A Alegria”.

A segunda fala é a do tio da protagonista, que diz a esposa que foi enterrado vivo, mas que renasceu e enfim refaria sua vida. E é isso que “A Alegria” faz com o cinema, onde os cineastas de todo o planeta, como dito no parágrafo anterior, parecem estar em crise de identidade em meio a um mundo tão plural, acabando por sucumbir a acomodação. “A Alegria”, fazendo algo que julga novo, ressuscita um cinema a muito esquecido, puro em uma perspectiva muito simples, onde fala ao expectador sem rodeios, e debate com ele ao invés de ludibria-lo. Uma pequena obra prima, considerando o que representa.

(?)

sábado, 13 de agosto de 2011

A Árvore da Vida



A “Árvore da Vida” é antes de tudo, uma experiência sensorial absurda. Maximizada por efeitos visuais maravilhosos, fotografia luminosa que dá a aura divina que permeia por todo o filme, e trilha sonora que faz o peito arfar e provoca sorrisos involuntários em nossos rostos durante e após o filme. “A Árvore da Vida” se assume constantemente como filme, seja através de repetição de planos, olhares em direção a câmera ou quebramentos de eixo. Tomando em seu desenrolar, ares de obra de arte, que pode ser agradável ou não, dependo do nível de entrega que seu expectador lhe dá.

Com um misto de filosofia e religião, “A Árvore da Vida” mostra o papel insignificante do ser humano em relação ao universo. Um ser tão pequeno quando comparado ao universo, está para ele como a célula para o corpo humano, o planeta para a galáxia e a gota d’água para o mar. Entretanto, ao contrário de filmes como “Melancholia”, “A Árvore da Vida” demonstra o quanto somos agraciados pelo fato de existirmos. A possibilidade de estarmos em meio a algo tão grandioso e complexo é tido como privilégio. Os raios de sol, as árvores, o toque da pele humana - Todas as pequenas coisas ganham proporções épicas que se voltam para nós e dizem: A vida está aí, veja-a, sinta-a, viva-a.

Ao longo de sua história, o cinema acumulou diversos filmes com uma mesma “mensagem”: “Carpe Diem”. O que difere “A Árvore da Vida” é o fato de que esse questiona. - Aproveitar o dia? Mas de que forma? – A personagem de Jessica Chastain diz que se não amarmos, a nossa vida passará rapidamente. O tempo é tido como algo que passa em velocidades diferentes para cada pessoa. Tempo esse, arma poderosa de Malick, que transita com naturalidade por ele, subvertendo as noções de passado, presente e futuro. Podendo tudo pode ocorrer ao mesmo tempo, até mesmo Jack, vivido por Sean Penn, encontrar seu “eu” criança.

Em meio aos anos cinquenta, no interior dos Estados Unidos, uma família tem de lidar com a perda de seu primogênito. Levando-os a questionar Deus quanto ao porque do sofrimento humano. A dúvida é personificada pelo papel de Jessica Chastain, a mãe amorosa, benevolente, fiel aos ensinamentos divinos e a família. E ela quem mais sente o peso da perda, buscando no criador as repostas para o seu tão pesado tormento. A resposta chega na cartela exibida logo que o filme começa, mas toma suas devidas proporções apenas no final emblemático – Somos pretensiosos demais ao achar que as ações são moedas de troca e que temos o direito de ter explicações para tudo.

Após o breve encontro do expectador com os desdobramentos da morte do primogênito, somos levados até um dos irmãos: Jack. Já adulto, Jack ainda é atormentado pela perda do irmão. Dele somos levados para uma série de imagens estupendas que abarcam das células humanas e fenômenos naturais até dinossauros e belíssimas imagens do universo. Voltamos então para a criação do primogênito. Partindo de sua concepção e passando por seus primeiros passos e o desenvolvimento de relação com os pais e irmãos. Quase adolescente, o garoto possui uma relação difícil com o pai rígido e começa a apresentar sinais de maldade e questionamento quanto ao poder e a vontade divina.

Malick imprime profundidade em cada pequeno momento dessa família. Almoços de família, brincadeiras infantis e brigas de casal não são apenas acontecimentos corriqueiros, são eventos apoteóticos. Em meio a isso, são criados laços estranhos e dificilmente rotuláveis entre os membros dessa família, mas que poderiam mais amplamente ser chamados de amor. E isso se deve principalmente a câmera de Malick, que produz imagens deslumbrantes, que parecem captar cada sentimento com uma sensibilidade incrível. Sua câmera produz imagens que mais parecem acidentes. Contudo, dotados de enquadramentos magistrais.

A locações escolhidas e a direção de arte cuidadosa lapidam ainda mais essa obra incomum que é “Á Árvore da Vida”. Em meio a elas brilha um elenco de tirar o fôlego. Jessica Chastain esta impecável no papel de mãe, em uma química perfeita com Brad Pitt como seu marido. Esse infelizmente, acaba por ser ofuscado a maior parte do tempo pela companheira de cena. As crianças são incríveis, cumprindo seus papéis com delicadeza e notável competência. A grande incógnita é o Jack de Sean Penn, que parece ter sido extremamente mal aproveitado. Entretanto, pode-se supor que se seu personagem ganhasse mais espaço, com certeza haveria um filme completamente diferente, talvez mais convencional. O que obviamente não pode ser um desejo comum após assistir “A Árvore da Vida”.

Talvez “A Árvore da Vida” seja apenas muito bom, como muitos outros filmes. Mas como experiência de vida, ele extrapola qualquer outro. A forma como dialoga conosco e com a vida através de nossos sentidos, é única e especial. Sendo assim, “A Árvore da Vida” firma seu lugar na história, assumindo a posição de algo que não se permite ser esquecido, penetrando em nossos olhos, nossos ouvidos e nossa carne – E lá permanecendo.

(?)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Melancholia



Estava com um péssimo pressentimento com o que viria pela frente logo que o título apareceu. Isso porque acabara de ser apresentado o prólogo. Bonito, sem dúvida, mas de uma masturbação artística incômoda. Eis que o filme começa de fato, e tudo muda. Após o prólogo, o filme é dividido em duas partes, que parecem pertencer a filmes diferentes e ao mesmo tempo se completam. As partes são nomeadas de acordo com os nomes das duas irmãs protagonistas: Justine e Claire.

Justine é triste por natureza, tem consciência de sua existência e da falta de importância da mesma. Na primeira parte, que se passa durante sua festa de casamento, acompanhamos uma Justine que ainda tenta enganar aos outros e a si mesma. Já na segunda parte, que se passa nos dias precedentes a passagem de um planeta pela terra, vemos uma Justine autêntica, melancólica, irracional em sua racionalidade. “Pare de sonhar Justine”, diz sua mãe Gaby, e ela para.

Claire é a personificação do ideal de mulher comum, portanto perfeita. É amorosa, educada, metódica, responsável e dedicada a sua família, em suma, humana. Apesar de somente a segunda parte levar o nome de Claire, pode-se dizer que vemos o filme através de seus olhos. Assim como Claire, sentimos desconforto quando Justine despreza e desconstrói o que seria aceito pelo senso comum: Trai o marido horas depois de ter se casado, abandona o casamento na própria festa, demite-se após ser promovida no trabalho. Ao passo que Claire luta até o fim da segunda parte para manter sua vida sobre os padrões considerados normais. “Os rituais” sabiamente nomeados e repudiados por Gaby.

Justine mostra a nós expectadores, e a Claire, que podem-se criar regras, segui-las fielmente, mas nada disso irá impedir que a vida cumpra a única certeza a nós imposta: A finitude da matéria. Seja através do suicídio, da morte natural ou de uma terrível catástrofe. E é no ponto em que tudo isso fica claro que o filme se torna desesperador, sufocante. O público tem vontade de gritar, mas não o faz, espera tenso pelo que tem a ser mostrado. O final se aproxima. Os pelos erriçam-se, os olhos se arregalam e a respiração é presa. É triste ver a beleza do final, ao saber que não poderá ser contemplada de tal maneira quando o fim de fato chegar. Os créditos começam e o público ainda demora a se mexer. Atordoados, saem da sala de exibição a passos lentos e cambaleantes, trocando olhares com misto de pena e compreensão.

Lars Von Trier exterioriza sua temática com primor. Os desprezo pelas convenções por sua falta de importância não se aplica só a Justine, mas também aos planos, os movimentos de câmera, as transições entre planos, a montagem final e as próprias atuações em si. Tudo foge do que é comumente aceitável. Mas não se enganem, é tudo belíssimo. O que cria duas possibilidades: Ou a câmera possui uma bizarra sensibilidade, ou Trier é uma criatura perversa, genial e manipuladora. Fico com a segunda opção.

Charlotte Gainsbourg esta esplêndida no papel de Claire. Charlotte se mostra familiarizada com a câmera de Trier, e dança junto com ela em uma atuação segura e poderosa. Kirsten Dunst, até então considerada uma atriz mediana, revela-se capaz de criar Justine, uma personagem fora do comum e ao mesmo tempo palpável. De forma magnífica, Dunst entra para a sala de troféus de Trier, que conta com Charlotte Gainsbourg (Por Antichrist), Nicole Kidman (Por Dogville) e Björk (Por Dancer In The Dark).

Na pele de John, marido de Claire, Kiefer Sutherland desempenha com brilho o típico homem rico, que acredita que o mundo gira em torno do próprio umbigo. Enquanto John Hurt interpreta o pai das irmãs com um humor soberbo, que arranca sorrisos da platéia em meio aos momentos mais obscuros. Charlotte Rampling é outra coadjuvante que se destaca, sua Gaby chega a parecer uma Justine mais velha e sincera. No entanto, somos levados a crer que seu ponto de vista se dá através rancor, e não de um instinto natural com o de Claire.

Lars Von Trier é um cineasta conhecido por muitos como fetichista e pretensioso, mas muitos dos seus algozes teriam de admirar a respeitável sobriedade com que Trier trata o personagem infantil da trama: O filho de Claire. A olhar puro do personagem sobre o mundo, e a forma como é poupado de toda a sujeira dos adultos, é louvável tendo em vista o caos criado por Trier. Mesmo que o personagem tenha conhecimento do fim, ele o encara como uma criança normal, com uma espécie de bonita naturalidade.

Não há como falar de Melancholia sem deixar de citar a fotografia estranhamente harmoniosa, tendo em vista a câmera instável e incerta de Trier. São impecáveis, a iluminação amarelada da festa (Que lembra em alguns momentos iluminação por velas) e a projeção azulada do planeta sobre os personagens. A naturalidade fotográfica criada em meio ao que poderia se chamar de sobrenatural, dado o contexto incomum em que o filme se insere, é obra de mestre.

Melancholia é um grande filme em todo o seu conjunto. Capaz de fazer refletir por horas a fio. O que obviamente só aumenta a aflição por ele deixada. Lars Von Trier é direto: O fim é um fim em si mesmo. Ou algo do gênero. O que importa é que depois que o filme termina, não há mais como se ver o mundo com os mesmos olhos. Melancholia é acima de tudo, inquietante e perturbador.

(?)

sábado, 23 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2



O que falar sobre algo que viveu com você durante dez anos? Como conciliar a cinefilia a um pedaço de si mesmo? Sendo que foi “A Pedra Filosofal” um dos maiores motivos da paixão pelo cinema ter despertado. O que foi incrível na época, hoje é pura nostalgia. O medo de que o mesmo aconteça é de cortar o coração.

Harry Potter crava seu lugar na história do cinema, afinal não é todo dia que vemos uma série de oito filmes com um público tão fiel e apaixonado. Com uma trama bem amarrada, sustentada por um elenco de apoio monumental e uma excelente equipe técnica, cria entretenimento duradouro e de qualidade.

A começar pelo roteiro, “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” encontra seu maior trunfo naquele que é também o seu maior defeito. Ao passo que não subestima seu público, pressupondo que esse já conhece a saga o suficiente para não ficar perdendo tempo com explicações, acaba por deixar pequenos furos no roteiro do próprio filme em si. Perdendo um pouco da dramaticidade de certas cenas que poderiam ter tido força maior, como a morte da serva mais fiel do Lorde das Trevas. Ainda assim, o roteiro é recheado de pérolas que remetem a episódios anteriores da saga, arrancando risos e lágrimas do expectador. Um presente grandioso para os fãs, sem desdenhar em demasia do expectador comum.

A fotografia sombria, a excelente mixagem de som e a trilha sonora emocionante de Desplat proporcionam ao expectador uma experiência sensorial pouco vista ao longo da série. Os incríveis efeitos visuais são sem dúvida os melhores da série, valorizados pelos enquadramentos sempre cuidadosos de Yates. As cenas da batalha tiram o fôlego e os duelos são mais realistas do que nunca. A tensão gerada pela certeza do fim é maximizada, tornando o filme mais emocionante e arrepiante que o esperado. Ao ver Hogwarts em estado de destruição, conter as lágrimas é difícil. Principalmente para aqueles que viram Hogwarts pela primeira vez chegando até ela através do lago e da câmera de Columbus .

Os figurinos e a maquiagem delineiam a personalidade de seus fantásticos personagens sem cair na caricatura. A cenografia nos leva a cantos ainda inexplorados no castelo. A rica direção de arte homenageia o trabalho primoroso realizado desde “A Pedra Filosofal”. Infestado de referências aos outros filmes, a preocupação com os detalhes é louvável. Sem esse trabalho cuidadoso da arte, talvez não fosse possível que o universo de Rowling fosse tão crível e mágico.

A montagem de “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” possibilita ao filme um ritmo frenético, talvez até demais. Contrastando assim com o ritmo arrastado da primeira parte. O que leva a crer que um equilíbrio maior nessa polêmica divisão seria muito bem-vindo. Além disso, a transição entre as cenas muitas vezes é excessivamente bruta e antidramática.

O melhor da segunda parte de Relíquias da Morte reside em David Yates. O diretor não sucumbe a pretensões estilísticas, deixando sua câmera servir a saga com primor. A trama criada por Rowling, inteligente e ao mesmo tempo defeituosa, é tratada com mais respeito por Yates do que por qualquer outro diretor que tenha filmado algum dos longas da saga. Os movimentos de câmera grandiosos exaltam todo um conjunto de departamentos, que tornam o filme mágico e de proporções épicas.

Talvez estejam em “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” as melhores atuações vistas na saga. Os protagonistas mais maduros demonstram conhecer seus personagens como ninguém. Certos coadjuvantes finalmente ganham o espaço merecido. Como Matthew Lewis em um impagável Neville Longbottom.

Maggie Smith faz de sua Minerva ainda melhor que a dos livros, através de uma interpretação econômica e contundente. Ralph Fiennes, que enfim tem a chance de mostrar traços de Voldemort ainda escondidos. O vilão, duro e quadrado visto até então, transparece suas nuances. Dor e alegria revelam um personagem com alma, ainda que fragmentada.

Alan Rickman leva o espectador ao choro soluçante na melhor interpretação vista em toda a saga Potter. Cada emoção é pontuada através de olhares e pequenos gestos. A sequência da penseira é monumental, a mais bem montada da série, perpassando a trajetória do personagem mais complexo da série. Ao vermos o primeiro olhar lançado a Harry por Snape, enxergamos assustados que Rickman provavelmente já sabia de tudo que Rowling reservava.

O que decepciona é o tratamento dado a Helena Bonham Carter e Jason Isaacs, que expandiram o seu espaço ao longo da série com bastante brilho. Entretanto, os poucos momentos em que Bellatrix Lestrange e Lucius Malfoy aparecem na tela são impagáveis. O mesmo se aplica a Helen McCrory e sua maravilhosa Narcisa Malfoy, uma das personagens mais humanas da série.

“Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” deixa para os fãs cenas inesquecíveis, mas é no epílogo que as lágrimas queimam o rosto. Lembrar da primeira vez que vemos o expresso de Hogwarts pela primeira vez, quando tínhamos apenas sete ou oito anos, e vermos que passou tanto tempo, que crescemos junto com aqueles personagens, que amadurecemos e sofremos com eles. Harry Potter termina, mas deixa em nós uma marca, que nem o tempo será capaz de apagar. Como as lembranças mais belas de nossa infância, como uma horcrux, como uma parte de nós.

:D

sexta-feira, 24 de junho de 2011

White Material



Fico fascinado sempre que um diretor, no caso diretora, consegue recortar espaços de tempo e contar suas histórias dentro deles, sem que o público sinta necessidade de saber o que está além na trajetória de seus personagens. Claire Denis consegue fazer isso muito bem. Seu filme é composto por uma série de fragmentos que se misturam e se separam com o decorrer do filme. O que importa é o que está na tela no momento, não o que passou o que virá a seguir.

“White Material” não conta exatamente uma história, mas seu enredo é trazido para o palpável através de um lugar sem nome na África, que está em situação de guerra. A miséria humana e a subversão do conceito de pátria são os reais fios condutores do filme, onde a narrativa literária funciona muito mais como uma forma de fazer o público acreditar no que vê. O que realmente nos faz imergir no universo de Claire Denis é a forma sensorial como ela coloca seus planos. A câmera inquieta ofega e observa tudo, elevando os instintos do expectador.

Tempo e espaço não tem importância alguma, só servem para tentar fazer com que entendamos o que é impossível entender. “Coisas de branco” como moral, certo e errado são postas como irrelevantes em um lugar onde a linha entre o racional e irracional é quase invisível. Os personagens são complexos demais para serem movidos apenas por coisas banais, como a cobiça. Denis consegue tocar em pontos fortíssimos sem fazer julgamentos. Sua direção é delicada, inspirada e assustadoramente humana.

A fotografia e a trilha sonora tornam tudo cru. Dançam juntas formando a beleza do horror. As locações remetem a qualquer lugar, que é ao mesmo tempo muito específico. O filme poderia estar acontecendo em qualquer parte do continente africano, mas é ali que nos é mostrado. São naquelas estradas e plantações que tudo funciona.

O elenco é encabeçado pela diva Isabelle Huppert, que consegue brilhar com ou sem maquiagem, provando mais uma vez o seu talento a muito inquestionável. Sua personagem, Maria Vial, é a administradora de uma plantação de café, que resiste em meio à guerra a fim de salvar aquilo que julga ser seu. Maria ama e pertence aquela terra, mais do que a França de onde veio. Enquanto seu filho, vivido pelo competente Nicolas Duvauchelle, nasceu em solo africano, mas não pertence a lugar algum.

Escondido na casa de Maria, o lendário “boxeador” é procurado por todos. É ele quem motiva jovens revoltosos que desde cedo foram renegados pelo seu lar. São órfãos, abandonados, que viram seus pais morrerem e sua terra ser tomada por outros. Exalam liberdade, ao passo que estão presos ao seu fardo, por não poderem usufruir do lugar que lhes foi reservado no mundo.

A fluidez com que Denis nos dá suas imagens torna essa uma experiência única. “White Material” é o tipo que filme que pode ser vaiado e aplaudido na mesma proporção, dependendo do ponto de vista que se tem sobre ele. Minhas mãos não se manifestaram. Desde que o vi o ar parece mais pesado, e a consciência de existir, uma cruz que terei que carregar até o meu último suspiro.

*-*

sábado, 18 de junho de 2011

2011

Filme em Língua Inglesa
Meia Noite em Paris
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Melancholia
A Árvore da Vida
Inquietos
Tudo pelo Poder

Filme em Língua Não Inglesa
Polisse
Michael
O Garoto que Mente
Ausente
Sibéria, Monamour
O Garoto de Bicicleta

Filme Brasileiro
Histórias que só existem quando lembradas
Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios
Sudoeste
O Palhaço

Direção
Lars Von Trier por Melancholia
Terrence Malick por A Árvore da Vida
Woody Allen por Meia Noite em Paris
Maïwenn por Polisse
Markus Schleinzer por Michael
Beto Brant e Renato Ciasca por Eu Receberia as Piores Noticias de Seus Lindos Lábios
Eduardo Nunes por Sudoeste
Gus Van Sant por Inquietos
Selton Mello por O Palhaço
Marco Berger por Ausente
Slava Ross por Sibéria, Monamour
Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne por O Garoto de Bicicleta
George Clooney por Tudo Pelo Poder

Ator
Owen Wilson por Meia Noite em Paris
Michael Fuith por Michael
Selton Mello por O Palhaço
Paulo José por O Palhaço
Sean Penn por Aqui é o Meu Lugar
Ryan Gosling por Tudo Pelo Poder

Atriz
Kirsten Dunst por Melancholia
Charlotte Gainsbourg por Melancholia
Jessica Chastain por A Árvore da Vida
Sônia Guedes por Histórias que só existem quando lembradas
Keira Knightley por Um método perigoso
Camila Pitanga por Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios
Cécile De France por O Garoto de Bicicleta

Ator Coadjuvante
Michael Sheen por Meia Noite em Paris
Alan Rickman por Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
John Hurt por Melancholia
Kiefer Sutherland por Melancholia
Jérémie Renier por O Garoto de Bicicleta

Atriz Coadjuvante
Marion Cotillard por Meia Noite em Paris
Rachel McAdams por Meia Noite em Paris
Maggie Smith por Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Charlotte Rampling por Melancholia
Marisa Paredes por A Pele que Habito

Elenco
Meia Noite em Paris
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Melancholia
A Árvore da Vida
Um Método Perigoso
O Palhaço
Sibéria, Monamour
O Garoto de Bicicleta
Tudo Pelo Poder

Roteiro Adaptado
George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon por Tudo Pelo Poder

Roteiro Original
Woody Allen por Meia Noite em Paris
Maïwenn e Emmanuelle Bercot por Polisse
Markus Schleinzer por Michael
Marité Ugás e Mariana Rondón por O Garoto que Mente
Eduardo Nunes e Guilherme Sarmiento por Sudoeste
Jason Lew por Inquietos
Slava Ross por Sibéria, Monamour
Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne por O Garoto de Bicicleta

Fotografia
Meia Noite em Paris
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Melancholia
A Árvore da Vida
Um Método Perigoso
Histórias que só existem quando lembradas
Michael
O Fim do Silêncio
Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios
O Garoto que Mente
Sudoeste
Inquietos
O Palhaço
Sibéria, Monamour
O Garoto de Bicicleta
Tudo Pelo Poder

Direção de Arte
Meia Noite em Paris
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Super 8
Um método Perigoso
O Palhaço

Montagem
Polisse
A Árvore da Vida
Tudo Pelo Poder

Trilha Sonora
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
A Árvore da Vida
Melancholia
Inquietos
O Palhaço
Aqui é o Meu Lugar

Efeitos Visuais
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Melancholia
A Árvore da Vida
Super 8

Som
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Melancholia
A Árvore da Vida
Super 8

Animação

Documentário
Prova de Artista
As Canções

Balanço Geral - Festival Varilux

Tendo assistido nove dos dez filmes do "Festival Varilux de Cinema Francês", posso dizer que fiquei bastante satisfeito. As produções eram bastante diferentes, entretanto possuiam um nível de qualidade muito parecido e alguns pontos em comum: Como a fotografia e a mise en scène, que pareciam ter sido bem trabalhadas em praticmanete todos os filmes. As resenhas sobre os filmes podem ser lidas aqui no blog mesmo em post's anteriores.

Para não perder a prática das premiações, vão abaixo os filmes e suas respectivas notas, seguidos por uma pequena seleção onde escolho dentre os filmes do festival: Melhor Filme, Mise en Scène, Melhor Atuação, Melhor Fotografia e Melhor Argumento.

COPACABANA - :)
UMA DOCE MENTIRA - :)
POTICHE - :)
SIMON WERNER DESAPARECEU - :D
UM GATO EM PARIS - :D
XEQUE MATE - :D
OS NOMES DO AMOR - :|
O PAI DOS MEUS FILHOS - :)
VÊNUS NEGRA - :O

Filme VÊNUS NEGRA
Mise en Scène SIMON WERNER DESAPARECEU
Argumento XEQUE MATE
Atuação SANDRINE BONNAIRE (XEQUE MATE)
Fotografia COPACABANA

E que venha 2012.

MEIA NOITE EM PARIS



O mais novo Woody Allen é uma daquelas coisas da vida a qual amamos tudo, até mesmo os singelos defeitos.

“Meia Noite em Paris” conta a história de Gil, vivido por um inspirado Owen Wilson, um escritor que vai passar as férias em Paris com a noiva Inês e seus futuros sogros. Cansado de escrever roteiros para cinema, Gil quer se dedicar a um romance. O que parecia ter tudo para ser uma viagem inspiradora, torna-se enfadonha graças a série de compromissos irritantes programados pela noiva. Sempre levando o chato e pedante Paul, em uma atuação brilhante de Michael Sheen, a tira colo.

Em uma caminhada por Paris, ao badalar da meia noite, Gil entra em um carro antigo e vai parar na Paris dos anos vinte. Lá encontra seus maiores ídolos, de Salvador Dalí e Luis Buñuel a Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald. Apaixonando-se pela belíssima personagem de Marion Cotillard, Adriana.

Transitando por dois mundos, com uma naturalidade que só a mão de Woody Allen poderia dar, Gil vive uma comédia romântica onde sua amante não é nem Adriana, nem Inês, e sim a cidade luz.

Mesmo que solidificado em uma série de referências, “Meia Noite em Paris” é um filme bastante acessível. O roteiro recheado de diálogos leves consegue o que parecia impossível em uma história tão mirabolante: Um filme sem arrogância ou almejo a intelectualidade. Intelectualidade essa zombada muitas vezes durante a projeção.

Woody Allen parece ferver em sua mise em scène. Os planos são sempre monumentais, amparados por uma fotografia de tirar o fôlego. Os movimentos de câmera, os enquadramentos e até mesmo a própria relação da imagem com os atores, são tratadas de forma inquieta pouco vista na filmografia do autor. Sem dúvida, esse não é apenas “mais um filme do Woody Allen”. Ao contrário do que muitos insistiam em apontar, Allen mostra que seu cinema esta mais vivo do que nunca.

O filme, por pouco, não chega a perfeição. Talvez seu único defeito evidente seja a montagem, que muitas vezes quebra a fluência narrativa em um texto sem elipses de tempo mastigadas.

Além de Cotillard e Sheen, o elenco possui uma série de atuações exemplares: Rachel McAdams como a humanizada esposa de Gil, ora amável, ora detestável; Adrien Brody como Salvador Dalí e Kathy Bates como Gertrude Stein, roubando todas as atenções nos poucos minutos que estão em cena. Entre outros.

Os conceitos de passado, presente e futuro são postos em xeque nesse filme delicioso. Não importa se Gil teve uma infância feliz, se o seu livro irá ser um sucesso ou se ele vai ficar em Paris pelo resto da vida. E sim, que a “Meia Noite em Paris”, Woody Allen leva seu expectador ao delírio e o deixa por fim, com um imenso sorriso no rosto.

*-*

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Festival Varilux - Vênus Negra.



Vendo histórias reais como essa, envergonhamo-nos de sermos seres humanos. É horripilante pensar no tipo de maldade que as pessoas são capazes de fazer umas com as outras. O que nos leva a crer que com uma história tão manchada de sangue, o futuro não possa ser nada menos do que penoso.

A forma crua como é contada a história da sonhadora e sofrida mulher africana, que foi animalizada e explorada de diversas formas pelos homens do ocidente, deixa a todos da sala de cinema inquietos. Repulsa, medo, aflição, são tantas as sensações que o filme passa através das imagens.

Conduzidas por um roteiro forte, a direção vertiginosa e a bela fotografia dão beleza a algo medonho. Um trabalho excepcional, sem dúvida. A trilha sonora e a montagem criam a atmosfera perfeita que engrandece o filme e incha os olhos do expectador. A direção de arte soa falsa em alguns momentos, mas não o suficiente para prejudicar o filme.

A atuação da incrível Yahima Torres tonifica o filme, sua entrega ao papel é assustadora. Seguida por excelentes coadjuvantes. Yahima consegue criar auras fortes e diferentes, seja com o olhar vazio ou com as lágrimas de suplica. Trabalho divino.

Deslumbrante, simplesmente deslumbrante.

Festival Varilux - Le Pére de Mes Enfants.



Seguindo os passos de Hitchcock, Mia Hansen-Love nos surpreende ao tirar de cena aquele que pensávamos ser o protagonista. Em "Le Pére de Mes Enfants", os personagens e tramas funcionam como planificações conceituais da vida. Quando os créditos finais começam a subir, ouvimos "WHATEVER WILL BE, WILL BE" e tudo fica cristalino.

Apesar de defeitos técnicos, como certos erros na fotografia e na mixagem de som, temos uma série de metáforas que nos levam a pensar no belíssimo conjunto de acidentes que criam, eliminam e transformam a vida. Quando em meio ao jantar tudo fica escuro, os personagens se divertem. Quando a luz volta, o amigo da família diz que tudo uma hora tem que acabar. E é essa a alma do fim, tudo na vida tem um inicio, meio e fim, não sendo necessariamente uma etapa mais importante que a outra.

Esse não é um filme sobre um produtor endividado, uma família que tem que lidar com a morte de seu provedor ou a indústria cinematográfica cruel. É um filme sobre a maravilha que é a vida, em seus momentos grandiosos e prosaicos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Festival Varilux - Os Nomes do Amor



Não é novidade que eu tenho certos problemas com filmes que abusam de uma narrativa mais pop. Em alguns cados, vide (500) Dias com Ela, a fórmula dá certo. Em outros, como o filme do qual falamos, o resultado é uma ausência de ritmo gritante.

A história tem sérios problemas de roteiro, que acaba se esforçando demais para ser engraçado. Entretanto, o casal protagonista leva o filme de maneira sensacional.

Mesmo com a narrativa confusa, ocorre nesse filme algo típico dos filmes desse festival: Os personagens são construídos com primor. Tanto os protagonistas quanto os coadjuvantes.

Apesar de todos os defeitos, "Os Nomes do Amor" cumpre muito bem seu papel, falando com humor e leveza sobre temas bastante polêmicos. O nada convencional casal Bahia e Arthur servem como ferramentas para uma série de ironias quanto a assuntos como posição política, sociedade de consumo e monogamia.

Através dos pais de Bahia, fala-se sobre um tema delicado da França: A Imigração. A forma periférica como são tratados os imigrantes pelas elites e como isso reflete em suas vidas e desencadeia em uma série de complexos. O tema já havia sido abordado brilhantemente em "Entre os Muros da Escola".

Outro ponto alto da trama são os pais de Arthur. Além de possuírem diálogos e atuações excelentes, a mãe possui uma trama forte. Ela foi a única de sua família a não morrer nos campos de concentração na segunda guerra. O que reflete em sua personalidade e por fim em toda a vida do filho.

A miscelânea de temas sérios abordados com humor, faz desse um ótimo programa para o entretenimento e a cabeça.

Visto no dia 14/06/11.

Festival Varilux - Xeque Mate



A simplicidade do cinema de Caroline Bottaro emociona e faz com que o público sai do cinema com um sorriso bobo na face.

A brilhante Sadrine Bonnaire interpreta Hélène, uma mulher que abdicou de sua vida para se casar. Faxineira doméstica, Hélène aceita tudo que que a vida lhe impõe sem reclamar. Ao ver um casal jogando xadrez no hotel em que trabalha como camareira, passa a nutrir o desejo de aprender o jogo. Ministrada pelo patrão de uma casa onde trabalha, O Dr. Krüger de Kevin Kline, Hélène transforma o xadrez em motor da sua vida.

O xadrez simboliza o ponto de virada da vida de Hélène, que deixa de ser passiva a tudo. A relação com o trabalho, o marido, a filha, as amigas e sobretudo a vida, são postas em perspectiva. Em meio a um turbilhão de conflitos externos, é contra si que Hélène tem que de fato lutar, a fim de permitir a si mesma o direito de ser feliz.

Recheado de atuações excelentes, "Joueuse" possui um texto primoroso e uma mise en scène leve e cuidadosa. Bonnaire e Kline estão estupendos, respeitam os ritmos de seus personagens e não se perdem em atuações exageradas e viciosas.

As locações são belíssimas, muito bem aproveitadas pela direção de fotografia. A direção de arte imprime uma realidade crua que permite que a mise en scène se sobressaia ainda mais.

Um filme simples, doce e de uma beleza pouco vista no cinema atual.

Visto no dia 14/06/11.

Festival Varilux - Uma Vida de Gato



Personagens bem construídos em uma história batida poderiam fazer de "Une Vie de Chat" mais um filme irrelevante, daqueles que se esquecem com facilidade. No entanto, a beleza gráfica exalta cada cena e cada personagem, trazendo assim a linguagem visual para o primeiro plano.

Direção de arte primorosa, principalmente quanto aos detalhes, justifica a animação quadro a quadro.

A história do gato de vida dupla, que mora com a filha de uma delegada de dia e com um ladrão de noite, cria uma identidade visual que marca o filme como obra única. Nem todo o maniqueísmo formado pelo embate entre o chefe dos mafiosos e a família de Zoé, filha da delegada, consegue ofuscar o show visual de "Une Vie de Chat". Sabemos sempre o que o personagem irá fazer, mas nunca o que os nossos olhos irão ver.

Lindo e único.

Visto no dia 13/06/11 no Teatro Maison de France. Presença de Audrey Tautou e do diretor Alan Gagnol.

domingo, 12 de junho de 2011

Festival Varilux - Simon Werner Desapareceu



Tudo é uma questão de ponto de vista.

Lembrando estruturalmente "Elefante", "Simon Werner..." possui um roteiro multiplot. Em uma festa, garota bêbada vai caminhar para tentar se sentir melhor, lá encontra o que parece ser um morto. Esse é o ponto de partida para vermos a trama a partir do ponto de vista de quatro personagens: Jérémie, Alice, Rabier e Simon. Dentro de cada ponto de vista construímos e desconstruímos a história. Não somos traídos, e sim induzidos a nos enganar.

Gobert conduz muito bem sua câmera e seus atores. É fascinante que consigamos adentrar nos universos dos quatro personagens sem perdermos o fio da meada.

O maior trunfo do filme é também contraditório. A imprecisão narrativa nos deixa com um gosto de quero mais, ao passo que parece deixar lacunas importantes na história. O filme é muito curto para todo o seu potencial narrativo. Criam-se personagens maravilhosos que não são visados com o devido valor. Por exemplo: Laetitia e Frédéric.

Se a narrativa é contraditória, o mesmo não se pode dizer da arte e da técnica. Fotografia, trilha sonora, som, montagem - Todos estão em sincronia e são executados com precisão.

Simon Werner Desapareceu é a grande surpresa do festival. Contendo uma premissa passada, conquista com a profundidade de seus personagens. Um trunfo do roteiro, da direção delicada e das atuações sob medida.

Visto em 12/06/2011.

sábado, 11 de junho de 2011

Festival Varilux - Potiche.



Potiche mantêm o bom nível do festival, entretanto perpassa um caminho diferente. Enquanto "Copacabana" e "Uma Doce Mentira" cumprem seus papéis sem dar saltos maiores que as pernas, Potiche promete, mas não cumpre.

A presença excessiva de maneirismos impede que o filme se torne a obra prima que parece preparar nos minutos iniciais. A montagem, o roteiro, a mise en scène, todos lembram estruturalmente a um videoclipe. Com muito requinte, é claro.

Apesar da arrumação brega, cada sequência do roteiro é uma pérola. É de se imaginar que as pessoas a lerem a sinopse detalhada ficaram embasbacadas, se gostaram do resultado já são outros quinhentos. Dentro das sequências do filme, as relações entre personagens são construídas maravilhosamente. Os personagens são extraordinários e ao mesmo tempo palpáveis, conduzidas por atuações de peso. A lógica familiar é composta de forma maestral. Talvez por isso a atuação de Depardieu seja ofuscada. Ao contrário de Deneuve, que brilha.

A direção de arte, a maquiagem, o figurino e a trilha sonora são jóias a parte. A história da defeituosa Potiche que não foi feita para ficar na prateleira traça um caminho paralelo ao filme: Um diamante bruto e belíssimo.

Visto no dia 11/06/11 no Festival Varilux.

Festival Varilux - Uma Doce Mentira



Assim que vi Audrey Tautou entrando na sala de projeção, pensei: Que se dane o filme, a Audrey esta aqui. Mas logo que o filme começou, fui traído. Entrei na história de tal maneira que esqueci o mundo durante cem minutos.

Vi uma comédia leve, sem nenhuma pretensão de ser mais do que propõe: Uma história que nos leve ao divertimento. Só que ao contrário da maioria das comédias americanas que entram em circuito, não a esquecemos passadas horas da exibição.

O roteiro brilhante, as lindas locações, a fotografia competente e o brilho de Tautou transformam "De Vrais Mensonges" não em uma obra prima, mas em um filme inesquecível.

O filme narra a história de uma cabeleireira que tentando amenizar o sofrimento da mãe com mentiras, acaba perdendo o controle da situação.

É de espantar a forma como o cinema da França vem evoluindo com o passar do tempo. Tornando-se cada vez mais acessível, não perdendo a qualidade e o bom gosto. "De Vrais Mensonges" é o exemplo perfeito não dessa fase, mas desse processo em que se encontra o sempre vivo cinema francês.

Visto no dia 10/06/11 no Cine Odeon com a presença de Audrey Tautou e Philippe Martin.

Festival Varilux - Copacabana



Meses se passaram e o tempo só fez bem a visão tida por mim sobre o filme. A fotografia esplendorosa somada a dinâmica entre Isabelle Huppert e Lolita Chammah, fazem desse um dos melhores filmes do ano que passou.

Por mais mirabolante que possa parecer a sinopse do filme, que não vou definir aqui, é basicamente a relação entre mãe e filha que segura o filme inteiro. As duas personagens tem personalidades completamente diferentes, e equilibrar esses contrastes com o grande amor que nutrem uma pela outra é o que mantêm a atenção sobre o filme. Apesar das excelentes subtramas.

Fitoussi consegue extrair o melhor de seu elenco e escolhe enquadramentos que deem dramaticidade necessária, sem perder o tom de comédia.

Sintetizando, Copacabana é um deleite.

Visto no Festival do Rio

Festival Varilux de Cinema Francês.



Depois de muito tempo sem postar, anuncio para os meus leitores (Risos) que farei uma pequena cobertura do Festival Varilux de Cinema Francês que está rolando desde o dia 10/06 e vai até o dia 16/06. Em breve postarei uma pequena resenha sobre o filme de abertura: Uma doce Mentira. Estão na minha lista para serem assistidos: Potiche, Vênus Negra, Xeque-Mate, O Pai dos meus Filhos e Os Nomes do Amor. O filme Copacabana já foi assistido no Festival do Rio. Vou tentar dar uma puxadinha na memória e escrever um pouco sobre ele também.

Mais informações sobre o festival que está acontecendo simultaneamente no Rio, em São Paulo e em outras cidades no site: http://www.festivalcinefrances.com/

domingo, 3 de abril de 2011

Oito e Meio.

Fellini realiza um filme que em muito se aproxima da obra Machadiana: Irônico e repleto de metalinguagem. “Oito e Meio” é um filme extremamente visual, conhecemos seus personagens antes mesmo de suas falas saírem da boca. Sabemos que Carla é exagerada e extravagante só de olharmos para o seu figurino, o mesmo quanto a Luísa e sua seriedade. Nesta obra, os diálogos são apenas um aperitivo a mais, de tão clara que é a linguagem cinematográfica.

“Oito e Meio” conta a história de Guido, um cineasta italiano com uma tremenda crise de inspiração. A trama gira em torno da busca de Guido por uma trama para o seu próprio filme, onde seu passado e presente acabam se misturando, em uma busca doentia por referências. Guido tem de lidar com diversos fantasmas de sua vida, que vão de sua criação católica até a forma ‘errada’ como amou as mulheres de sua vida. A paixão pela sétima arte e a necessidade de ideias, refletem-se em praticamente todas as ações de Guido: Seus gestos, falas e devaneios.

Como o próprio Fellini expõe em diversos diálogos do filme, essa é uma obra sincera, direta, que ousa ao fugir dos parâmetros convencionais do belo e cria um novo conceito de beleza cinematográfica. A estética e a estrutura dos filmes de Fellini acabam por se tornar únicas e características do diretor.

Interessante observar que a maioria dos personagens que cercam Guido veem em cada atitude dele algo genial, como se ele implantasse conceitos em tudo que fizesse. Quando o próprio personagem afirma para o crítico que quer apenas fazer algo honesto, de forma a exorcizar seus demônios e possibilitar que os outros façam o mesmo. Reflexo claro do que o próprio Fellini propõe com esse filme.

Conceitos à parte, é magnífica a forma como o processo de criação do cinema é retratado. O filme é repleto de cenas belíssimas, orquestradas pela trilha sonora de Nino Rota e mostradas sobre a ótica de uma grandiosa fotografia preta e branca.

Há de se destacar o papel simbólico que certas mulheres possuem em sua vida. Saraguina remete aos instintos de Guido, o primeiro contato que o mesmo teve com seus desejos e com o questionamento aos valores que lhe foram impostos. Luísa é a sua realidade, é a que o tira dos devaneios e o traz para a dureza da vida. Luísa o conhece de verdade, é a única que o vê não como um gênio e sim como um homem.

“Oito e Meio” é sem dúvida uma obra primorosa, que marcou a história do cinema e a história dos filmes que falam sobre cinema. Quanto a história de Guido, o que melhor justifica toda sua alma e trajetória é uma frase célebre dita e repetida por Cláudia: “Porque não sabe amar”.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

VENCEDORES - S.A.

Melhor Filme em Língua Inglesa
True Grit

Melhor Filme em Língua Não Inglesa
Tropa de Elite 2

Melhor Documentário
José e Pilar

Melhor Animação
Toy Story 3

Melhor Ator
Colin Firth - O Discurso do Rei

Melhor ator coadjuvante
Marco Nanini - A Suprema Felicidade

Melhor atriz
Natalie Portman - Cisne Negro

Melhor atriz coadjuvante
Maria Luiza Mendonça - A Suprema Felicidade

Melhor fotografia
True Grit

Melhor Trilha Sonora
127 Horas

Melhor Direção
Roman Polanski - O Escritor Fantasma

Melhor Roteiro Adaptado
Roman Polanski, Robert Harris - O Escritor Fantasma

Melhor Roteiro Original
Stuart Blumberg, Lisa Cholodenko - Minhas mães e meu pai

Melhores Efeitos Visuais
A Origem

Melhor Elenco
O Discurso do Rei

Melhor Montagem
A Rede Social

MELHOR FILME EM LÍNGUA INGLESA - S.A.



TRUE GRIT


Os outros indicados:
A Rede Social
O Discurso do Rei
O Escritor Fantasma
Cisne Negro